Grandes
operações de pesca conduzidas, na maioria das vezes, por
empresas destas regiões, desovam o produto da extração nos
portos. No cais, já existe uma pré-seleção. Esteiras recebem
os peixes agrupados por espécie e acondicionados em caixas
de 20 kg. O abate dos peixes se dá por choque térmico nos
próprios porões dos navios, repletos de gelo.
O pescado, abatido e devidamente encaixotado, é
acondicionado em caminhões isotérmicos, que mantêm a
temperatura e conservam este pescado até entrarem na
Ceagesp, por volta das 22 horas. Segundo o diretor da Trovão
Comércio e Indústria de Pescados, José Pereira de Souza,
vulgo ‘Trovão’, 90% do peixe comercializado é consignado. Ou
seja, quem vende nas praças de pescado não é dono da
mercadoria, apenas obtém o direito de comercializá-la. O
vendedor do peixe recebe uma comissão pela comercialização.
Na origem, já são definidas as pautas – cotação mínima de
cada espécie. Às 2 horas, os caminhões são abertos e começa
uma espécie de leilão. “De acordo com a quantidade de cada
tipo de peixe, quantidade de clientes na praça, os chefes de
cada empresa se reúnem e estabelecem um preço. Sem isso, não
é possível definir um preço. Ai entra o tato comercial, são
anos de experiência. São pessoas que eu admiro: olham para a
praça, já sabem quem é cliente, se vai vender peixe ou não.
E em cima disso dão os preços”, relata Toninho, da
Biriba
Pescados, distribuidora e cliente da praça. “O atacadista
quer vender no maior preço possível e o distribuidor no
preço mais baixo possível. É onde começam as discussões.
Essa é a vantagem de ser um distribuidor atacadista. Como
estamos aqui dentro, sempre conseguimos os melhores preços
possíveis.” |
Segundo 'Trovão', 90% do
peixe comercializado é consignado |
|
Negociação estabelecida é hora de carregar a mercadoria. “Depois que
compramos, vem uma equipe de carregadores para levar esse peixe o
mais rápido possível. Ele já é escolhido na praça. Chega aos boxes
dos distribuidores, onde fazemos uma seleção e separação das caixas
dos atacadistas para as caixas dos distribuidores. Nessa passagem de
caixa, é feita novamente outra seleção. Depois os peixes são
gelados”, conta Toninho. Por volta das 5 horas, a frota terceirizada
de caminhões isotérmicos começa a carregar estes peixes para as
lojas, onde chegam entre 7h e 8h. “Aí fica a nossa torcida para eles
fazerem um trabalho bem feito para termos outro pedido no dia
seguinte”, diz o sócio da Biriba.
Toninho representa uma das cinco principais distribuidoras de
pescado do local. Estas empresas, com escritórios dentro da própria
Ceagesp ou em outros locais, compram o peixe direto dos fornecedores
ou então, para suprir a demanda, na própria praça. “Temos aqui cinco
distribuidores que trabalham como nós, conhecem o cliente, sabem
como trabalhar. O que tem menos tempo no mercado está aqui há 15
anos. O carregador da distribuidora está apto a recusar as caixas de
produto inadequadas, e eu tenho plena confiança de que ele fez a
escolha certa. Conseguimos com o tempo acostumar o atacadista a
aceitar nossas devoluções, desde que seja em seguida à compra”,
explica. A venda concentra-se nas grandes redes de varejo, como a
Companhia Brasileira de Distribuição (CBD rede formada pelo pão de
Açúcar; Extra e Extra Eletro, Compre Bem Barateiro e o Grupo
Sendas), responsável por 70% da receita da Biriba. “Comercializamos
em torno de 150 toneladas por mês, mas isso varia muito. As
principais espécies vendidas são a tilápia, corvina, pescada e a
sardinha. Dentro dessa tonelagem, em torno de dois terços segue para
a CBD. Desde o começo, há nove anos, estivemos juntos.”
Para sustentar essa dinâmica de trabalho, os profissionais
envolvidos com a Ceagesp vivem uma rotina curiosa. A luz do dia,
para eles, revela a hora de dormir, depois de uma cansativa noite de
trabalho. “Acordo à meia-noite e vou tomar um café. É como se eu
estivesse acordando pela manhã. À l hora já estamos aqui. É o
horário que começa a se preparar para a abertura da praça”, conta
Toninho. A partir das 6 horas, aproxima-se a hora do "almoço”. A
refeição é completa: arroz, feijão, mandioca, paio e, claro, peixe.
Companheiro de praça, Trovão vive a mesma realidade, mas é
apaixonado pelo que faz. “Aqui é muito divertido. Passamos o tempo
trabalhando, e ao mesmo tempo brincando. 98% é homem aqui. É igual
uma feira livre. Trabalhamos brincando. Chego aqui à 1 hora,
trabalhamos até às 6 horas. Terminou a comercialização, vamos ao
escritório, e chegamos em casa por volta de 13 horas. Dormimos até
às 18h. Depois dormimos de novo às 21h até 24h. A família nos vê
mais nos fins de semana. Convivemos mais com as pessoas do mercado
do que com a família. Mas não podemos reclamar”, Trovão é um exemplo
de profissional que prosperou ao lado do crescimento do entreposto
paulistano. “Comecei a trabalhar como peão e, com muito trabalho,
trabalhei como chefe de praça, vendedor, etc. Aqui foi uma escola,
cada degrau durou cerca de dois anos para subir. Hoje sou dono da
Trovão Pescados, uma empresa sólida e bem-sucedida; um dos
principais atacadistas da Ceagesp.” Além da Trovão Pescados, estas
empresas concentram as maiores quantidades e receitas do pescado:
Akama, Pesca Venda, ABC e Pesca Viva.
Integrantes da paisagem do entreposto, os carregadores ditos
"autônomos” trabalham em um ritmo frenético, mas também colhem seus
louros da atividade. “Trabalho há 11 anos aqui na Ceagesp. Cobramos
vários preços: R$ 0,80 por caixa, R$ 1,00; depende. O pessoal compra
o peixe, chama a gente e nós carregamos. Somos autônomos, chegamos
às 2 horas e vamos embora às 6 horas. Ninguém manda na gente aqui,
somos livres e fazemos o nosso horário”, contenta-se Manuel do
Nascimento Santos.
|